Após o ano chuvoso de 2016, o Inverno foi mais seco que o normal, tendo chovido 22% menos que a média dos últimos 30 anos. Apesar de o mês de Janeiro ter sido particularmente frio, o abrolhamento ocorreu mais cedo que o normal, a 10 de Março. O mês de Abril extraordinariamente quente e seco determinou o avanço dos sucessivos estados fenólicos das videiras. A combinação de uma temperatura média para abril no Pinhão de 16.83ºC com uma precipitação muito baixa, de apenas 7.2 mm, implicou um rápido desenvolvimento da videira. A média de 1970-2000 para o Pinhão é 14.1ºC para a temperatura e 58,8mm de chuva.

Maio continuou igualmente quente e seco, tendo a floração ocorrido ente 3 e 11 de maio nas vinhas letra A. As primeira três semanas de junho foram extremamente quentes, o que em conjunto com os níveis muito baixos de humidade afetou os cachos, sendo costume chamar-se “Queima de S. João. Este ano assistimos novamente ao escaldão dos cachos de Tinta Barroca que também tinha ocorrido em 2011.

O pintor foi detetado pela primeira vez na semana de 18 de Junho, exatamente um mês antes relativamente ao ano anterior. Com a exceção de uma trovoada que ocorreu em algumas partes do Cima Corgo em 6 de Julho, o Verão foi excecionalmente seco, sem se ter verificado queda de chuva durante Agosto e Setembro.

Como esperado o amadurecimento estava consideravelmente avançado, e em geral, os níveis de açúcar estavam muito mais altos que o normal. Para a mesma data no final de Agosto, o Baumé médio em Vargellas estava 3º mais elevado que em 2016, e 2º mais elevado que na maior parte dos nove anos anteriores. Estes muito elevados níveis de açúcar são benéficos para o vinho do Porto porque permitem fermentações mais longas e uma melhor extração de cor. Isto foi particularmente importante em 2017 dado que as peliculas estavam muito espessas.

A vindima começou na Quinta da Roêda a 31 de Agosto e em Vargellas no dia 1 de Setembro, coisa nunca vista na minha geração, contudo não inédita. O relatório de vindima de Dick Yeatman do ano de 1945 recorda que os primeiros lagares foram cheios em Vargellas no dia 3 de Setembro.

As temperaturas durante a vindima estiveram amenas, com noites frescas, o que contribuiu significativamente para que as fermentações não atingissem temperatura demasiado alta, tendo as uvas conservado uma maturação equilibrada.

A concentração das uvas em conjunto com os elevados níveis de açúcar produziram vinhos do Porto com grande intensidade de cor e taninos densos e firmes. As condições ideais de temperatura em Agosto e durante a vindima resultaram em poucos mostos sobre maduros o que é muito satisfatório considerando a aridez do ano.

Numa altura em que anos fora do comum são atribuidos às alterações climáticas, é reconfortante ler o relatório de vindima de 1945 de Dick Yeatman e ver um ano quase idêntico a 2017. Vamos esperar que os vinhos do Porto de 2017 sigam a qualidade dos de 1945.

David Fonseca Guimaraens
Outubro 2017