Historias da Taylor's

Filoxera - A História do Assassino Silencioso

Todos a Bordo!

 
Num dia fatídico, um navio zarpou para Inglaterra a partir da costa leste da América. A bordo deste navio, invisível e despercebido, viajava um grupo de assassinos silenciosos. A devastação que este grupo desencadeou iria destruir meios de subsistência e arruinar regiões inteiras da Europa.
 
A data precisa desta viagem é desconhecida, mas sabemos que foi no final dos anos 1850, quando era costume os viticultores europeus importarem videiras oriundas da América. Os produtores não sabiam que, ao mesmo tempo, eles estavam também a importar os mortíferos piolhos amarelos que se escondiam nas raízes das videiras americanas nativas. No entanto, como a videira americana já estava familiarizada com estes pequenos insectos, havia desenvolvido maneiras de lhes resistir mas, a sua prima europeia, a videira Vitis vinífera, produtora de vinho, estava completamente indefesa.
 
 
Phylloxera vastatrix - the dry leaf devastator
Filoxera vastatrix - o "devastador da folha seca”
 

Morte & Destruição


Da Inglaterra para a França e em seguida para Portugal, os piolhos marcharam, causando doenças graves nas videiras que tinham infestado: folhas amareladas e murchas eram os indícios de que a morte estava iminente. Qual era o seu método de ataque? O piolho inseria o seu tubo de alimentação na raiz vulnerável da vinha europeia e sugava toda a sua seiva. Naturalmente, a raiz se tornava tão deformada que não conseguia retirar água ou nutrientes do solo e apodrecia. Com efeito, as vinhas europeias morreram de fome.
 
Em 1868, na época em que o ácaro chegou às vinhas do Douro, o pesquisador francês Jules-Émile Planchon deu à praga o nome de filoxera vastatrix, o "devastador da folha seca”. Em 1872, a Filoxera deixou muitas casas famosas de Vinho do Porto falidas, por dizimar os seus rendimentos. É sabido que, nesse mesmo ano, o rendimento de uma famosa casa de vinho desceu de 70 pipas para apenas uma. Hoje, as memórias deste tempo calamitoso permanecem nos sinistros mortórios - as ruínas abandonadas dos antigos socalcos nunca mais replantados. 
 

Tempos Drásticos pedem Medidas Drásticas


Apesar da força implacável da Filoxera, havia homens dispostos a enfrentá-la. Um desses homens foi John Alexander Fladgate, que se tornou sócio da Taylor’s em 1836. Duas das suas paixões gémeas eram a viticultura e a lindíssima Região do Douro. Quando a filoxera começou a destruir as duas coisas que lhe eram tão queridas, ele tomou a decisão de que elas deveriam sobreviver.
 
Por esta altura, a filoxera já tinha destruído muitas vinhas francesas. Tempos drásticos pedem medidas drásticas! Guindastes de madeira e gruas gigantes foram usados para arrancar as vinhas que estavam doentes. O solo foi impregnado com diversos produtos, incluindo cal e enxofre. Sapos mortos foram enterrados para sugar o veneno das plantas atingidas. No entanto, conforme o tempo ia passando, os produtores franceses iam descobrindo maneiras mais eficazes para manter a filoxera afastada. Ao aperceber-se que eles estavam um passo à frente, Fladgate rumou a França para ver de perto quais os métodos que estavam a ser usados para controlar a praga.
 
Quando regressou a Portugal, Fladgate publicou as suas conclusões e os melhores conselhos numa carta aberta a todos os agricultores do Douro; como reconhecimento do seu trabalho, a Coroa Real Portuguesa concedeu-lhe o título de Barão da Roêda. 
 
 

Trabalho Duro

 
Apesar dos grandes esforços do Barão Fladgate, algum tempo antes foi encontrada uma solução conclusiva para o problema desta praga: o enxerto da Vitis vinifera Europeia com as raízes resistentes das videiras americanas nativas. O enorme trabalho de replantação das vinhas do Douro com este tipo de enxerto começou no final da década de 1870 até se intensificar na década de 1880; no final dos anos 1890 a filoxera foi finalmente erradicada.
 
Grafting of vines
Uma videira enxertada

 

Vida Após a Morte


Devido à devastação, a maioria das vinhas teve de ser totalmente replantada, no entanto, este processo permitiu experimentar novas técnicas e novas variedades de uvas. Um grande exemplo disso é a Quinta de Vargellas. Em 1893, quando a Taylor’s a adquiriu, esta Quinta estava num estado de abandono e a produção tinha caído para apenas 4 pipas anuais. A tarefa árdua e monumental de restaurar a Quinta de Vargellas à sua antiga glória caiu nos braços de um outro parceiro da Taylor’s, Frank 'Smiler' Yeatman.
 
Vine replanting at Quinta de Vargellas
Replantação de vinhas na Quinta de Vargellas
 

História Líquida

Infelizmente, não temos forma de saber se os vinhos da era pré-filoxera têm um sabor muito diferente dos de hoje. Vinhos desse período são extremamente raros e os que "sobreviveram” em perfeitas condições são inéditos. Entre estes últimos Vinhos do Porto tão históricos encontra-se o Scion da Taylor’s, um vinho envelhecido em casco desde há 150 anos atrás.
 
Quando recentemente foram lançadas como edição limitada de coleccionador, as poucas garrafas de Scion esgotaram muito rapidamente; quando a última gota deste vinho tiver sido bebida, uma das poucas vozes remanescentes da era pré-filoxera terá sido silenciada para sempre.
 
 
No entanto, temos ainda um grande futuro pela frente, pois a Taylor’s possui alguns dos mais raros e mais extensos lotes de Vinhos do Porto envelhecidos em cascos de madeira. Este espólio inclui alguns vinhos raros do século IXX, concentrando a sua essência quase mágica durante décadas de envelhecimento, mas, no entanto, revelando-se também vinhos vibrantes e cheios de vida. Estes são os sobreviventes de uma época passada, histórica, que nunca mais poderá ser recriada. Sendo assim, um dia, poderá ainda ter a oportunidade de provar um pedaço insubstituível da história líquida dos nossos vinhos.

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